01 agosto 2013

Alemão e tabuada - ou por que você NÃO aprende língua nenhuma com conteúdo mastigado

Pegando o embalo do novo mês, vamos a um novo assunto. Considerem o presente post como uma introdução à vindoura bateria de posts voltados à galerinha iniciante, que vem entrando em contato comigo perguntanto por dicas e por onde começar. Então vamos apertando o cinto e segurem firme! :D

Antes que você pergunte o que alemão tem a ver com tabuada, convém explicar o motivo deste post. Eu sempre observo e analiso as estatísticas do blog, e nelas me deparo com alguns fatos a respeito dos visitantes que me deixam indignada. E foram esses "fatos" o estopim do presente artigo.
Por que as pessoas procuram por tantas coisas prontas querendo aprender sobre algo? Preguiça de pesquisar e montar o próprio conhecimento? O conforto de digitar um termo no Google e poder facilmente encontrar uma página em que um autor inocente mastigou tudo o que você queria?
A coisa piora quando é um trabalho de escola, por exemplo, em que um sem número de estudantes digita o termo no buscador e imprime/copia o conteúdo da primeira página que encontra e entrega à professora. Quem é que nunca fez isso? Ninguém liga; muito menos os professores, que deviam ser os primeiros a repreender essa prática. A coisa só muda quando vamos para a faculdade e aprendemos da pior maneira que passamos anos plagiando o trabalho alheio - e agora os professores se importam, implicam, descobrem e punem se descobrem um aluninho plagiador.
Mas isso não é o nosso caso. Voltemos à primeira pergunta que eu fiz. O que você acha que aprende quando copia um texto da Wikipedia ou lê uma lista ou uma tabela de verbos, números ou afim? Você absorve a informação - mas depois ela evapora. Você pode decorar o que está escrito, mas entendeu tudo mesmo? Sabe usar aquilo que leu para alguma coisa?
Com base na reflexão sobre a negligência no aprendizado próprio dos internautas em geral, e tendo como população os visitantes deste blog, venho por meio deste provocar a vossa consciência e cutucar um pouquinho aquele tabu de a internet emburrecer as pessoas.

Você vem sempre aqui?

Pelo menos umas duas vezes por semana eu confiro as estatísticas do blog pelo Painel mesmo. Ok que o sistema nativo do Blogger não é a coisa mais precisa do mundo e o Google Analytics me forneceria relatórios bem mais detalhados e confiáveis, mas essa conferência por cima me dá um panorama de alguns dados interessantes, como:
  • de que lugar vêm os visitantes do blog;
  • por que site ou buscador eles acessam;
  • que palavras procuram no Google e me encontram;
  • e até o navegador que usam, mas isso é irrelevante.
O que mais me chama a atenção (excluindo-se o crescimento exponencial de visitas que ando tendo ultimamente) definitivamente são os termos de busca no Google. Os da semana em que comecei a escrever este post até que nem foram tão escabrosos (com os erros de digitação e a preguiça da galera em digitar o til devidamente corrigidos):
números em alemão
aprender alemão
artigos definidos e indefinidos alemão
cumprimentos em alemão
exercícios da negação em alemão
gramática alemão präteritum
palavrões em alemão
tempos verbais em alemão
verbos alemão
Mas é só mudar um pouquinho a perspectiva para a visualização mensal, ou mesmo a diária, que já começam a aparecer umas barbaridades. Fui até no Analytics e revirei tudo para ver o que as pessoas procuram no Google que caem aqui. Seguem os mais desesperadores que encontrei, devidamente 'categorizados' e comentados.

1. Novos iniciantes perdidos

oi tudo bem em alemão
bem e você alemão
como se fala em alemão muito obrigada
aprender simples o alemão
como digitar o beta alemão
contar até 20 em alemão
Devidamente perdoados, estes talvez sejam os que estão buscando algo completamente novo e não sabem por onde começar. Não vou nem falar nada sobre o "beta alemão"; já tem posts por aqui cobrindo todos esses tópicos.
Obs: Iniciantes, não fiquem bravos, eu adoro vocês. Daqui em diante vou fazer mais posts voltados para a galera que está começando, então não me abandonem, sim? ^^

2. Confusos com plurais

dicionário plural alemão
como decorar o plural dos nomes em alemão
Certo, o plural do alemão é bem irregular e até confuso. Mas gente, dicionário plural???? Essa doeu. Respondendo à possível curiosidade, qualquer dicionário bilíngue que se preze traz a forma plural dos substantivos. Agora, como decorar... salve-se quem puder, cada um se vira do seu jeito. É apenas recomendável.

3. Bobeiras interessantes

como formar frases em alemão
jeito fácil de aprender números em alemão
como aprender modal verbs em alemão
gramática de alemão explicada
frases no presente no pretérito e no futuro em alemão
lista dos verbos com auxiliar sein em alemão
porque usa o auf no final da frase em alemão?
prefixos alemão sentido
Essas são perguntas 'respondíveis'. Mas olha só. O como formar frases é perfeitamente ignorável. O "jeito fácil" de aprender os números (e qualquer outra coisa que se deva levar na base da decoreba memorização em geral) eu só conheço cantando, recitando, declamando; como prefira. Como aprender verbos modais? Lendo! Praticando! Não conheço outra forma.
Agora, a gramática do alemão explicada; meu amigo, se você quer alguma coisa bem didática, eu tento fazer isso aqui no blog da melhor forma que posso; mas se ainda assim for insuficiente, te recomendo altamente procurar um professor. E um bem paciente!
A lista dos verbos com auxiliar sein é uma pergunta legal. Mas primeiro você aprende sobre declinação e os casos gramaticais e depois volta nisso, ok? O problema de fazer esse tipo de lista é que não existe algo que cubra absolutamente TODOS os verbos que vão usar sein como auxiliar. Não importa o quão grande ela seja, você sempre vai achar mais um! A dica para saber se o auxiliar de um verbo é sein é simples: eles são verbos de mudança de estado.
A de baixo, o porquê do auf ir no fim da frase, depois de estudar um pouco sobre os verbos separáveis e ter pelo menos uma noção da sintaxe do alemão, a pergunta se responde sozinha.
Já o sentido dos prefixos, isso é muito variável. Já falei sobre no blog também.

4. Bobeiras toleráveis

gramática alemã em português
como ler datas em alemão
como decorar os artigos indefinidos
O primeiro, ok, claro que você vai preferir aprender outra língua com referência inteligível na sua própria. O segundo, questão da data, também perfeitamente compreensível (aliás, vou fazer um post melhor sobre isso). O terceiro, vou ignorar a parte de decorar porque já comentei, mas BEI GOTT, os artigos indefinidos são a coisa mais fácil que tem a respeito de declinação! (Se é que foi essa a ideia da pergunta.)

5. Festa numerária

números em alemao 1 a 1000
como se diz os números de 1 a 1000 em alemão
números alemão + de 1000
números em alemão por extenso
números em alemão e pronúncia em português
todos os números em alemão
datas por extenso alemão
Acho que essas coisas sobre números são o que me deixam mais possessa. ONDE esse povo ACHA que vai encontrar uma lista interminável de TODOS os números de 1 a 1000 (que é o que a grande maioria pede) e até mais, e ainda por cima escritos por extenso, em qualquer língua que seja? A última vez que eu vi isso foi a minha professora da segunda série que não tinha matéria pra passar e mandava a gente escrever os números (em português, sowieso) por extenso no caderno até perder a conta. Agora, se alguém achar uma coisa dessas, pelo amor de Deus me mostre! Porque eu não conheço registro de existência de um ser humano que vá perder tempo digitando um negócio desse.
E "pronúncia em português"? ????? Acho que nunca expicitei a minha opinião sobre isso. Pedir "pronúncia em português" de qualquer coisa que seja, e seja qual for a língua que você está tentando aprender, é a mesma coisa que espernear para falar MAL e com sotaque. Isso NÃO EXISTE, tá? E o que dizer do abençoado que pediu ~todos~ os números em alemão? Será que ele já ouviu falar que os números são infinitos? A propósito, só para constar, "infinito" em alemão se diz unendlich.

6. Tiroteio verbal

lista de verbos em alemão
lista dos trennbare verben em alemão
lista de verbos irregulares em alemão partizip 2
tabela de verbos em alemão
lista de conjugação de verbos em alemão
verbos em alemão conjugados
verbos em alemão e tradução
lista de verbos em alemão conjugados
lista de verbos perfekt alemão
conjugação dos verbos em alemão
Outra coisa que me deixa indignada é a questão dos verbos ou qualquer coisa que peça "lista" ou "tabela". Vamos por partes.
a) Lista de verbos: aprenda a consultar um dicionário - e isso não é só agilidade em encontrar a palavra e encontrar a correspondência. Trata-se de entender as boleiras de abreviações que todo mundo acha tão inútil. "Lista" de verbos, ainda mais genérica como consta, NÃO EXISTE.
b) Lista de verbos assim-assado: idem acima. Ou você aprende encontrando por aí e identificando por conta ou você lê um dicionário, chapa.
c) Lista de conjugação: ok, existem sites que fazem esse serviço. Mas você tem que se dar o esforço de digitar o verbo em questão, porque o site não vai adivinhar o que você está procurando. Em geral, quem pede "lista" ou "tabela" de alguma coisa ou é completamente sem noção ou sequer sabe o que está procurando. Ok, isso ficou redundante, mas apenas para fins de ênfase.

7. Toupeirices hard level

exemplos de substantivos em alemão
substantivos alemão lista
todos os substantivos em alemão
na lingua alemã em perguntas usa-se o ponto de interrogação?
resumo gramática alemã
Esse também merecia ser comentado um por um. Exemplos de substantivos? Alô quarta série! Lista? TODOS de novo? Nem vou fazer o esforço de repetir sobre o dicionário. Gente, com licença, né?
A parada do ponto de interrogação: TÃO mas TÃO absurdo que eu prefiro não falar nada. A propósito, pontuação é algo tão universal que ¿existe alguma língua em que NÃO se usa pontuação em geral?
Agora, RESUMO de gramática? Eu li isso mesmo? Isso existe? Desconheço! Que eu saiba, gramática é que nem cavar um buraco, quanto mais você mexe, mais fundo fica...

Salada de alemão com tabuada e português

Also, todo esse compartilhamento depois, agora começa a parte em que eu explico o porquê do título do post e aí vem as dicas e patadas para vocês.

Decerto todos se lembram de quando aprenderam tabuada, oder? No meu caso, aquela professora chata da segunda série passava uma tabuada por dia (primeiro a do 2, depois a do 3 e assim por diante), a gente anotava, recitava tudo umas quatro ou cinco vezes e quando terminou tudo ela nos fez copiar de novo uma por uma e colar na contra-capa do caderno. Depois de tudo isso, de vez em quando ela fazia uma chamada oral e ia perguntando aleatoriamente para alguns alunos alguma continha da tabuada para ver se tínhamos decorado. Passei por isso até a quinta série, e quem perguntava a tabuada era a professora de Geografia (não perguntem). Ela nem gostava de perguntar para mim porque sempre tentava as continhas mais "difíceis" e eu respondia com a maior cara de desdém possível, como se estivesse falando o dia do meu aniversário para a minha mãe. HAHAHAHA
Mas enfim, o que é mesmo que a tabuada tem a ver com qualquer língua que seja, ou mais especificamente, com alemão?
Seguinte: para que você aprende tabuada? Pouco depois da segunda série você aprende a fazer contas de multiplicação compostas e, ainda mais para a frente, porcentagem, potenciação, raiz e o escambau. E se você não souber a tabuada, ou em suma, multiplicar um número por outro, como vai conseguir fazer isso por conta?

Eu tive uma professora de inglês que dizia que línguas deviam ser disciplinas exatas. Eu concordo com ela apenas parcialmente, porque duas coisas são certas: da parte que eu concordo, porque há coisas que você aprende de base que simplesmente têm que ser devidamente compreendidas e memorizadas para poder seguir em frente; e da parte que eu discordo, porque línguas são coisas fluidas, inconstantes, mutáveis, tendentes a evolução, então não podem ser levadas como tudo-se-resolve-com-uma-fórmula. A prova disso? Já está salpicada por diversos posts aqui no Schrei in Deutsch, mas eu dou uma ilustração bem nítida.
Decerto vocês aprenderam na escola sobre a colocação dos pronomes pessoais oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes) na frase. Há três formas disso acontecer: próclise (quando o pronome vem antes do verbo, como em "te vi"), ênclise (pronome depois do verbo, como em "inclinei-me") e mesóclise (quando o pronome entra no meio do radical e do verbo, como em "dar-lhes-ei"). Agora responda: nos dias de hoje, onde é que se vê mesóclise por aí, senão na Bíblia? E quem não lê a Bíblia? E mesmo em casos em que deveria acontecer ênclise, usamos a próclise (mas nesse caso porque não sabemos o correto uso mesmo). Alguém aí conseguiu ler alguma obra de Machado de Assis até o final sem um dicionário do lado? Eu não! :~ Viu como a língua evolui? Agora, continuando.

Então, levando em consideração o alemão, que é o que nos interessa, atachando-se primeiramente à questão de aprendizado técnico e continuando com a analogia matemática, podemos dizer que as questões de aprender o gênero das palavras e tabelas de declinação, por exemplo, são como as tabuadas: se você não entender como funciona e depois (como consequência) decorar memorizar, nada mais vai para a frente. Assuntos mais aprofundados, como regência de verbos e preposições e os casos gramaticais, são como as multiplicações compostas; formação de frases é como a porcentagem, sintaxe é como a potenciação, morfologia é como raiz e assim por diante.
O exemplo prático mais simples para ilustrar tudo isso é a própria questão dos números. Como eu disse, em lugar NENHUM você vai encontrar uma lista com números de 1 a 1000 mastigados e cuspidos, e muito menos por extenso. Você vai aprender as formas individuais dos números, como eles são formados, alguns exemplos aleatórios e espera-se que você entenda a lógica e vá exercitar o conhecimento adquirido tentando formar os outros. Já ouviu o ditado "não dê o peixe, ensine a pescar"? É exatamente isso.

Por outro lado, há a questão da minha discordância, que pende para o lado aplicado de se aprender as coisas. Uma vez, não lembro onde li um artigo que falava sobre ensinamento e aprendizado, a respeito de decoreba, e citava uma passagem mais ou menos assim:
Uma professora ensina a tabuada a seus alunos. Ela passa as contas 5x8=40, 4x7=28, 2x9=18, 2x10=20, 3x6=18, 5x9=45 e pede para os alunos decorarem que elas cairão na prova. Assim, os alunos se empenham em decorar aquelas contas achando que aprendem a tabuada.
Mas eis que um dia a professora fica doente e vem uma substituta dar aula. Esta pergunta se as crianças sabem tabuada e, tendo recebida a resposta afirmativa, começa a perguntar algumas contas aos alunos e descobre que a maioria deles não sabe responder. Uma criança, quando perguntada sobre qual o resultado de 3x7, pede desculpas e diz: "mas essa conta a professora não ensinou!"
Essa historinha é uma parábola que ilustra bem a questão de que decoreba pura e simples não é aprendizado coisíssima nenhuma. Vamos lá.
Quando começamos a aprender a tabuada, você aprende que 2x3=6 e que é a mesma coisa que 2+2+2=6. Mais para frente, aprende que 7x4=28 e que é a mesma coisa que 4+4+4+4+4+4+4=28. Em resumo, ao terminar de aprender as tabuadas, você deve ser capaz de compreender que a multiplicação nada mais é do que uma forma mais prática de somar números repetidos. No nosso caso, o entendimento da declinação é farinha do mesmo saco. E a partir desse conhecimento, você estará apto a fazer contas de multiplicação composta, como 89x23, no caso da matemática; e a saber o que é acusativo e dativo, no alemão.
A grande sacada disso tudo é entender como funciona. Só que depois de entender, isso não vai valer de nada se você não praticar. É por isso que temos que resolver trocentas equações com Bhaskara na oitava série para ir bem na prova, mesmo que não usemos Bhaskara para absolutamente nada na vida. (Se alguém souber alguma utilidade social de Bhaskara, por favor me comunique. Eu vou adorar saber que há um motivo útil para eu ter decorado aquela fórmula, ter esquecido o jeito mais fácil de resolver equações de segundo grau e ainda me lembrar dela!)
Mas voltando aos nossos carneiros, de nada adianta você ler os meus posts enormes discorrendo sobre os tempos verbais do alemão se você não souber colocar isso em prática. E isso que eu me empenho em colocar exemplos variados, mas se você quer mesmo aprender alguma coisa, você não pode se limitar a isso. Vou repetir, frisando bem: você não pode se limitar a isso. De que adianta aprender que o Plusquamperfekt do verbo schlafen é ich hatte geschlafen, du hattest geschlafen, er/sie/es hatte geschlafen, wir/sie/Sie hatten geschlafen, ihr hattet geschlafen e morrer nisso? Primeiro: você entendeu bem que esse tempo verbal é composto, formado pelo Präteritum do verbo auxiliar, que no caso é haben, mais o Partizip II do verbo principal? E você é capaz de me dizer como se conjuga o verbo anschauen no Indikativ Plusquamperfekt? Se você for, mesmo que precise reabrir o post em que falei do Plusquamperfekt, mas consiga conjugar o verbo sem recorrer a um conjugador online ou sem entortar a cabeça para o monitor e ficar meia hora tentando encaixar as engrenagens, parabéns, você entendeu o espírito da coisa. Massss se você só leu e jogou o filtro fora como se estivesse fazendo café... você está fazendo isso muito errado.

Agora a parte amistosa, as bolas murchas e as dicas pra vocês

Eu não sou professora e tampouco tenho um método para se aprender uma língua. Como já andei dizendo em resposta a e-mails e fóruns, eu venho aprendendo alemão por conta de um modo a la cobra-cega: engolindo tudo o que encontro e depois voltando aos poucos para assimilar uma coisa de cada vez (e é desse estudo mais minucioso que saem os posts daqui do blog). Então eu não posso dar um guia de estudos, não sei formular exercícios, não consigo dar suporte fixo para o aprendizado de ninguém e não sei responder tudo. Mas eu tenho experiência e moral suficiente para dar um conselho importante. (E antes que você pense que "se conselho fosse bom não se dava, se vendia", eu digo que se ditados cínicos como esse servissem para alguma coisa, teriam patente.)

Primeira coisa:

Não se contente com o que lhe é dado - duvide! A professora de Contabilidade Tributária, no semestre passado, resolveu dar uma aula diferente e explicou o funcionamento do Simples Nacional de uma forma completamente distorcida, com direito a regras e leis antigas e aplicações que não faziam o menor sentido. Por falta de tempo, eu nem me liguei de ir buscar como é que realmente funciona, mas no dia seguinte ela entrou na sala e deu uma bronca geral dizendo que dois ou três gatos pingados se deram à desconfiança do que ela estava falando e trouxeram o debate à baila. Sinceramente, por causa da confusão, de Simples Nacional eu só entendi os impostos incluídos, como é que se faz a conta e que o nome da guia que o contribuinte do SN paga é DAS. Não sei como fechei a disciplina com 10. lol

Segunda coisa:

Duvide - mas não fique com dúvidas. Pegando o gancho do exemplo pessoal acima, eu crivava a professora das mesmas perguntas a cada novo exercício que ela entregava e conseguia fazer na hora, mas no fritar dos ovos o negócio não entrou na minha cabeça. Mas se eu olhar de novo no material, eu lembro como funciona e consigo resolver a bagaça - e nalgum momento depois de fazer várias vezes olhando, não vou mais precisar da consulta.

Terceira coisa:

Não se imponha limites, mas vá com calma! Se você quer aprender algo de verdade, acho melhor começar a seguir a fiosofia sonhadora número um: o céu é o limite. Aí de novo emendando com a história da Tributária, foi tão difícil para eu assimilar tudo por uma questão simples: excesso de informação. E tudo o que é em excesso não presta. Era tanta coisa para aprender, entender e aplicar simultaneamente que não tem um espaço para consolidar tudo. Então, mesmo que te apeteça aderir à minha tendência cobra-cega, não adianta engolir informação e depois esquecer ou não saber como usar. É por isso que a gente estuda para as provas e tem que rever o conteúdo do semestre inteiro se pegar exame. Desafie-se, vá em frente, mas dê tempo a si mesmo para entender tudo aos poucos.

Quarta coisa:

Anote, anote, anote. E à mão! Mesmo que dizer que anotar é como andar de bicicleta ("uma vez que você aprende, nunca mais esquece") não seja garantido para todo mundo, as chances de você assimilar melhor as coisas escrevendo é muito grande, sem contar que você terá como fonte de consulta fácil depois. Por que a parada do Simples não entrou na minha cabeça? Eu presto atenção demais no que a professora fala, me recuso a imprimir material para acompanhar lendo e marcando pontos importantes e não anoto quase nada! Eu tenho minhas bolas murchas por aí, galera. :~

Quinta coisa:

Não decore; memorize. E antes que você diga "mas não é a mesma coisa?" e eu responda com um NÃO enorme, vamos às definições do Dicionário Michaelis.
Decorar, verbo transitivo direto: Aprender de cor, reter na memória.
Memorizar, verbo transitivo direto: Reter na memória, conservar a memória de, recordar-se.
Ainda que o dicionário apresente o significado comum de "reter na memória", vamos ao que eu acredito ser a diferença. Quando você decora alguma coisa, você é capaz de recitá-la na íntegra e só. É como decorar a letra de uma música; às vezes você sabe cantar a música até de trás para a frente mas no fundo não entende o que ela diz. E não só uma música numa língua estrangeira. Agora, quando você memoriza a mesma letra de música, você saca o que ela quer dizer e, no caso de ela ser numa língua estrangeira, você é capaz de falar sobre ela para alguém que te pergunte o que é que você tanto canta sem precisar traduzi-la ao pé da letra. E eu não estou falando de ler uma tradução; isso ajuda, para compreender sentenças de sentido complicado, ou expressões idiomáticas presentes no texto ou alguma coisa afim - NÃO. Você pode ter decorado a letra original e a tradução e não ser capaz de dizer sobre o que ela fala; exatamente porque DECOROU, não MEMORIZOU. Isso sem contar que informação "aprendida" com decoreba é logo esquecida. Você ainda lembra toda a tabuada de cor?
A diferença entre memorização e decoreba é que, na decoreba, você apenas repete a informação até retê-la na memória, para utilização imediata (vide uma prova); enquanto na memorização, há uma técnica (mesmo que intrínseca), e dificilmente você esquecerá a informação caso a considere realmente importante.

Sexta coisa:

Pratique, pratique, pratique. Eu também nunca tive ninguém com quem conversar em alemão, e na primeira vez que tive a oportunidade, me surpreendi comigo mesma. Já contei isso num post aqui, mas apesar dos foras e apuros, me virei bem para caramba. Eu não formulo exercícios aqui no Schrei in Deutsch porque honestamente não acho que eu tenha a menor aptidão para isso. Mas isso não vos impede de ir atrás de como praticar o que aprende na teoria. Vou dar um exemplo; suponhamos que você queira praticar algum tempo verbal. Você pensa num verbo qualquer, como cortar. Vai procurar num dicionário e vê que em alemão 'cortar' é schneiden. Aí você pega as suas anotações, procura o tempo verbal em questão e tenta conjugar o verbo schneiden de acordo com o que aprendeu. Depois, tenta formar frases com esse verbo; vão surgir dúvidas e talvez mais palavras que você não conheça e que vai procurar. Empenhe-se, vai ver como vai ficando cada vez mais fácil - e o vocabulário cada vez mais rico.

Sétima coisa:

Encontre uma companhia. Aprender um idioma na autodidática é para quem tem muito empenho, e convenhamos, não é todo mundo que tem essa garra. Então vou fazer outra analogia: começar a estudar uma língua é que nem fazer academia. Melhor ter alguém junto para começar, senão logo abandona. (É o que dizem, eu não faço academia, nem sob tortura. Nein, nein, NEIN!) A vantagem adicional de ter alguém com quem estudar junto é que vocês aprenderão mutuamente, um explica para o outro o que tem mais facilidade - e ensinar para alguém é um jeito infalível de aprender consigo mesmo! -, eventuais dúvidas são resolvidas mais amigavelmente, e ainda vem de graça alguém com quem praticar.

Conclusão

Enfim, concluindo este salmo que eu escrevi hoje, a chave do sucesso de todo aprendizado é entender como funciona, colocar em prática e dar um passo de cada vez. Me impressiona tanto que as pessoas queiram as coisas de bandeja; primeiro porque como se alguém fosse obrigado a fornecer exatamente o que elas querem, e outra porque isso é tudo embuste - gente que quer aprender as coisas desse jeito não aprende coisíssima nenhuma, quando muito acha que aprende. Que parágrafo mais redundante.
Nós, donos de blogs com intuito de aprendizagem (de idiomas, de HTML, de edição de imagens, do que quer que seja), estamos em primeiro lugar compartilhando nosso conhecimento, dedicamos nosso tempo e não ganhamos um centavo com isso (a menos que vendamos algo e/ou coloquemos anúncios no blog, o que não é o meu caso). A intenção é guiar, ajudar a quem busca o mesmo conhecimento que nós temos e, porque não, de alguma forma ser útil nesse interminável latifúndio chamado Internet.
É por isso que eu não consigo NÃO me sentir indignada com a quantidade de gente que se deixa iludir com a possibilidade (?) de se encontrar qualquer coisa que seja mastigada e pronta no Google, conclusão tirada a partir dos termos impagáveis que constam nas minhas estatísticas. Se essa possibilidade realmente existe, e se há pessoas que se prestam a torná-la existente (alô mais redundância!) - e anterior a isso, até tocando no nosso ponto polêmico, se a Internet nos emburrece, essas pessoas que contribuem e que usufruem desse tipo de conteúdo estão fazendo isso muito certo!

Então, como eu disse lá no início, a partir daqui vou escrever uma série de artigos para iniciantes; abordando coisas básicas como por onde começar os estudos, o que é preciso saber primeiro, como organizar seu aprendizado, enfim; o que eu puder para orientar os novos perdidos a seguir um caminho coerente e "adestrar" os mal acostumados dando-lhes algum suporte e ajudando-os a entender que estudar pela internet não é festa e que podem aprender (de verdade!) qualquer coisa usando a própria cabeça.
De resto, estou sempre aberta e no aguardo de sugestões de dicas, de artigos, de conteúdo (e a críticas, claro), e tem um formulário específico para isso cujo link está no topo da página.

Se alguém leu tudo até aqui, agradeço a atenção e a paciência, e se não for pedir demais, divulguem o artigo/blog.
E você? De que forma utiliza a Internet para o seu aprendizado? Comentem, vamos debater. :}
Bis bald!
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